Caos aéreo? Uma visão do menos importante personagem desse episódio: o passageiro.

São 7:23 da manhã do dia 5 de Dezembro de 2007. Após viajar mais de 11 horas no dia anterior vindo de Toronto no Canadá, embarco para Curitiba no vôo 1220 da Gol. Os transtornos começam ao chegar ao aeroporto. Ao fazer o check-in, o atendente implica com minha mala de mão, pois diz que a mesma está pesada. Detalhe, ele ainda não a pesou! Explico que tenho apenas roupas e que a mesma foi feita pequena exatamente para evitar o despacho. Após uma conversa amigável, o convenço a tirar minha bagagem da esteira e levá-la na mão. Sou encaminhado ao portão 12 do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O portão 12 é o portão mais longe que existe. Uma boa caminhada desde o check-in. Ao chegar no portão, reparo que a aeronave ainda não se encontra no mesmo e pergunto à atendente (que não faz absolutamente nada a não ser olhar para o além sem saber muito se planta uma árvore ou se escreve um livro - minha sugestão à ela é que tente a primeira e esqueça a segunda, por questões óbvias) se o vôo vai atrasar, pois a aeronave não se encontra ali, faltam 10 minutos para o embarque e isso é um sinal claro de atraso. Ela olha-me com um olhar de desprezo e dispara: “Se houver alguma alteração nos procedimentos, o Sr. será informado.” Ora, até uma porta sabe disso e não foi isso que perguntei. Mas fazer o quê? Viro-me e dirijo-me ao assento. Logo ela anuncia que o portão tinha mudado. Para o 18, ou seja, do outro lado do aeroporto. Ao lado da entrada, logo após o check-in. Vamos todos, os passageiros-carga, voltar ao início. Andando, esbarrando, tentando segurar as malas da melhor forma possível. Ao chegar no portão 18 deparo-me com uma bagunça e várias filas que desembocam em uma portinha. Uma atendente recebe os cartões de embarque com um sorriso que mais parece o Putin após levar um pisão de seu guarda-costas ex-KGB. Ao dar meu cartão de embarque ela pede-me para entrar em um ônibus lotado, mais parecendo um “busão saindo de Itaquera em dia de greve”. Digo a ela que o ônibus está lotado e ela me diz: “Sr. o ônibus é esse.” Insisto. Ela também: “O ônibus é esse.” Fazer o quê? O pessoal da fila começa a me olhar feio. Embarco no “busão” e aperto uma meia dúzia (para quem não me conhece, eu tenho 1, 83 e peso 107 kilos). Vamos para a aeronave. Sento-me e vejo que mais dois ônibus chegam depois. Ambos semi-vazios. Revoltado, pergunto para a aeromoça (acho que elas são chamadas assim ainda, se não, acabo de entregar minha idade) se ela sabe o nome da atendente no solo. Ela sabe. Mas recusa-se a dizer-me. Típico de quadrilha. Fazer o quê? O avião fica parado na pista por volta de 30 minutos. Segundo o comandante (em uma rara demonstração de entender a relacão cliente-fornecedor) explica que aguardamos autorização do tráfego aéreo, pois o mesmo encontra-se congestionado. Novidade. Fazer o quê? Esse episódio é mais um dos milhares que acontecem todos os dias no sistema de transporte aéreo nacional. Mas ele retrata um problema maior do que simplesmente chamamos de “caos aéreo”. Do alto de sua incompetência, o ex-presidente da ANAC (que deveria mudar o nome para ANAL, Agência Nacional de Aviação Lenta, pois gosta de colocar algo em uma parte específica de nosso corpo), disse uma vez: “Não há caos aéreo.” E ele estava certo. O caos não é aéreo, é pessoal. Desde a eleição do presidente Lula, parece-me que uma vasta gama de pessoas perderam a vergonha de serem incompetentes. Elas não mais buscam se aperfeiçoar nem “encantar” seus clientes. Elas simplesmente vivem, esperando a morte chegar. São pessoas que preferem a bravata à ação, à explicação ao resultado, à desculpa ao cumprimento do dever. Do ministro da Defesa à atendente que recebe os cartões de embarque, o setor sofre da síndrome de Lula: “Soluções simples para problemas complexos, que geralmente não funcionam, feitas por pessoas despreparadas.” O Brasil de hoje não será o Brasil de amanhã. Com certeza as pessoas que se importam em estudar e fazer o melhor irão se manifestar e retomar o caminho da “luz”. Discutir as causas dos problemas que enfrentamos no setor aéreo (e em outros, como infra-estrutura, educação e político, só para citar alguns) e não discutirmos educação, preparo, agenda escusa de empresários acostumados a “mamar” nas tetas do governo, tendo o mesmo como sócio, não nos leverá a nada. O ministro Jobim disse que quer punir as empresas aéreas. As empresas aéreas dizem que irão punir os passageiros, pois o aumento de custos será repassado ao preço das passagens. Fazer o quê? O Brasil precisa acordar e ver que uma grande oportunidade se apresenta a ele e, finalmente, ele poderá tomar o lugar de destaque que merece no cenário mundial, mas isso depende da sua capacidade de entender que um país sério é um país que respeita seus cidadãos, investe em educação, tem instituições sólidas e um plano de crescimento. Infelizmente, desses, somente temos alguns. Deixo ao leitor adivinhar quais. E se não adivinhar? Fazer o quê?

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